Por Adelson Vidal Alves
Quando Marx escrevia a maior parte
de seus textos militantes a Europa era o centro da efervescência
industrializante. A nascente classe operária do século XIX impressionou não só
o filósofo alemão, mas todo o campo revolucionário. Quem duvidaria que uma
multidão de trabalhadores ligados por uma condição de opressão seria capaz de
por abaixo o sistema capitalista? A história apontava o coveiro do capitalismo.
No entanto, caso Marx acordasse
hoje, o que ele veria é o seu operariado fabril agonizando. O movimento em quem
ele tanto apostou é insignificante diante dos grandes conflitos contemporâneos.
São os coveiros do capitalismo que estão indo para a cova.
As razões para esse refluxo
irreversível são várias: a reestruturação produtiva, a globalização, a
revolução tecnológica, a mutação no mundo do trabalho. A internacionalização da
economia exige empresas mais eficientes, menos braços e mais máquinas. A
operação produtiva está robotizada, exigindo cada vez menos a participação
humana. Diante disso aparecem novas técnicas de gerenciamento, que afetaram
diretamente na consciência das classes, produzindo sindicatos mais negociadores
e menos radicais nos enfrentamentos. As greves acabaram, fracassaram. As Centrais
Sindicais só aparecem para organizar sorteios de brindes e mega-espetáculos no
1 de Maio.
Não é que a luta de classes
tenha desaparecido, ela se modificou e perdeu relevância. A classe trabalhadora
vê hoje um mundo que produz globalmente, conglomerados que exploram mais-valia
a quilômetros de suas matrizes, um mundo conectado que dispensa quase que por
completo as velhas relações humanas de trabalho.
Os trabalhadores do século XXI estão em menor número nas grandes fábricas, perderam suas identidades, rejeitam suas
velhas formas de luta, querem mais colaboração e menos guerra, querem
participar do capitalismo, não destruí-lo. Ao contrário da previsão apocalíptica
de Marx, o sistema do capital não proletarizou o mundo pela miséria. Os avanços
tecnológicos formaram classes médias, reduziram os quadros de fome, incluiram as
massas no consumo. O “grande dia do conflito final” foi definitivamente adiado.
Não significa que esteja tudo
bem, significa que com o fim do proletariado e de seu movimento, as relações de
trabalho vão precisar ingressar em novos espaços de resolução de confrontos. Teremos
que pensar o futuro sem as utopias do passado, reafirmar a democracia e suas instituições
como lugar de excelência para que possamos erguer um novo mundo, pacífico,
desenvolvido e mais justo. O movimento operário, aquele dos séculos XIX e XX,
está dando adeus.
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