quarta-feira, 4 de outubro de 2017

O movimento operário dá adeus

Por Adelson Vidal Alves



Quando Marx escrevia a maior parte de seus textos militantes a Europa era o centro da efervescência industrializante. A nascente classe operária do século XIX impressionou não só o filósofo alemão, mas todo o campo revolucionário. Quem duvidaria que uma multidão de trabalhadores ligados por uma condição de opressão seria capaz de por abaixo o sistema capitalista? A história apontava o coveiro do capitalismo.

No entanto, caso Marx acordasse hoje, o que ele veria é o seu operariado fabril agonizando. O movimento em quem ele tanto apostou é insignificante diante dos grandes conflitos contemporâneos. São os coveiros do capitalismo que estão indo para a cova.

As razões para esse refluxo irreversível são várias: a reestruturação produtiva, a globalização, a revolução tecnológica, a mutação no mundo do trabalho. A internacionalização da economia exige empresas mais eficientes, menos braços e mais máquinas. A operação produtiva está robotizada, exigindo cada vez menos a participação humana. Diante disso aparecem novas técnicas de gerenciamento, que afetaram diretamente na consciência das classes, produzindo sindicatos mais negociadores e menos radicais nos enfrentamentos. As greves acabaram, fracassaram. As Centrais Sindicais só aparecem para organizar sorteios de brindes e mega-espetáculos no 1 de Maio.

Não é que a luta de classes tenha desaparecido, ela se modificou e perdeu relevância. A classe trabalhadora vê hoje um mundo que produz globalmente, conglomerados que exploram mais-valia a quilômetros de suas matrizes, um mundo conectado que dispensa quase que por completo as velhas relações humanas de trabalho.

Os trabalhadores do século XXI estão em menor número nas grandes fábricas, perderam suas identidades, rejeitam suas velhas formas de luta, querem mais colaboração e menos guerra, querem participar do capitalismo, não destruí-lo. Ao contrário da previsão apocalíptica de Marx, o sistema do capital não proletarizou o mundo pela miséria. Os avanços tecnológicos formaram classes médias, reduziram os quadros de fome, incluiram as massas no consumo. O “grande dia do conflito final” foi definitivamente adiado.


Não significa que esteja tudo bem, significa que com o fim do proletariado e de seu movimento, as relações de trabalho vão precisar ingressar em novos espaços de resolução de confrontos. Teremos que pensar o futuro sem as utopias do passado, reafirmar a democracia e suas instituições como lugar de excelência para que possamos erguer um novo mundo, pacífico, desenvolvido e mais justo. O movimento operário, aquele dos séculos XIX e XX, está dando adeus. 

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