Adelson Vidal Alves
O liberalismo é uma corrente teórica que defende, no campo econômico, um Estado enxuto, reduzido a questões
pequenas da vida social, confiante no triunfo natural das leis de mercado. Na
política, defende liberdades individuais, e instituições de representatividade
política que prezam pelo direito à liberdade. O fundador do liberalismo, John
Loke, dizia que o homem nasce com direitos naturais, como a vida e a
propriedade.
Nos seus primeiros anos de
vida, o liberalismo não era democrático, pelo menos não no sentido que falam
hoje os democratas mais radicais. O brilhante conservador Alex Toquevile temia
a soberania popular, com medo de que a democracia favorecesse à tirania das
maiorias. Benjamin Constant, em seu conhecido artigo sobre a liberdade dos
antigos e dos modernos, alertava para o fato de que no mundo moderno, a
liberdade central é a liberdade de se usufruir o acumulo dos bens privados,
conseguidos pelo mérito, enquanto os antigos tratavam da esfera pública. Por
fim, podemos lembrar de Immanuel Kant, que sugeriu que só deveria
participar do governo os totalmente independentes, como os homens de
propriedades, mulheres deveriam ficar de fora, pois dependem dos maridos, e os
pobres e trabalhadores ou dependem do Estado ou dos patrões, por isso, deveriam
ficar de fora. Nessa leva de teóricos liberais, destacamos como exceção democrata
Jean Jacques Rousseau, que acusou a propriedade privada como grande obstáculo
para a construção de um mundo justo.
No mundo atual há o pensamento liberal de
grande porte, como o produzido por Johw Raws, que escreveu um dos tratados jurídicos mais
importantes do mundo contemporâneo, “Uma teoria da Justiça” no qual estabelece
princípios que colaboram para a construção de um liberalismo menos propício a construção de injustiças,
ao contrário do que foi proposto por um Milton Friedman. Até mesmo no Brasil
vimos liberais da alta cultura, como o crítico literário José Guilherme
Merquior, e os economistas Eduardo Gianetti e Marcos Lisboa.
Mas o liberalismo por nossas
terras anda carecendo de outros bons representantes. A esquerda dogmática costuma se
afastar do liberalismo como se afasta de um demônio, e a consequência acaba
sendo a promoção de um sectarismo isolacionista. Porém, é de bom grado
reconhecermos que por aqui nos falta interlocutores autênticos do liberalismo
democrático na sua melhor tradição. O PSDB, que ganhou o rótulo liberal como
forma de desqualificação, não fala e nunca falou pelo liberalismo programático,
no máximo acolheu suas teses na política econômica, coisa que até o PT fez.
Mas o liberalismo brasileiro hoje pena sua exposição em figuras caricatas,
como o de um Kim Kataguiri e Rodrigo Constantino.
O primeiro é a figura bizarra
de egocentrismo juvenil travestido de ideologia política. Embutido de ódio
desproporcional à esquerda e ao comunismo, fala mais por preconceito e
ignorância do que por uma posição legítima que gozaria o bom liberalismo entre
nós. Liderança forjada e midiaticamente fabricada assume um liberalismo caduco,
raso e completamente avesso a possibilidade de convergir suas crenças com o
arcabouço teórico que poderia oferecer uma esquerda ou um centro democrático
para nossa república.
Rodrigo Constantino é o tipo liberal leitor de orelhas dos livros de Von Mises. Citações soltas e pescadas com vistas a desqualificar seus inimigos se somam a sua insana autoproclamação como porta voz do liberalismo brasileiro. Seus textos panfletários e seu liberalismo esdruxulo o afastou até mesmo dos espaços conservadores mais generosos, que o dispensaram por visível falta de audiência.
Enfim, o liberalismo em sua
forma democraticamente enriquecida faz falta, seria um ator importante de
diálogo nos tempos de polarização que vivemos. Mas assim como nos falta uma
social-democracia, por aqui também carecemos de um liberalismo decente. Ficamos
mais pobres, ficamos menos plurais, perde a democracia, perde o Brasil.
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